40 ANOS DE “FOTOGRAFIA”

Alguns certamente dirão que fiquei desajustado das funções cerebrais, pois a fotografia tem 198 anos, mas, calma, não me refiro a esta, e sim, ao álbum de estúdio da dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó, intitulado “Fotografia” gravado em 1985, completando então, este ano, 40 anos desde seu lançamento. Ouvi as músicas do mesmo muitas vezes desde minha infância, no rádio, principalmente nas manhãs antes de ir para a escola, e desde então, acho um álbum incrível, um marco mesmo da carreira da dupla, e olha que sou ousado ao classificar assim um trabalho que faz parte duma coleção de aproximadamente 39 álbuns de uma dupla com 50 anos de carreira. Claro que são minhas impressões e os leitores podem livremente concordar, discordar, eleger outro álbum da dupla como melhor, mas, em virtude desse aniversário, quis fazer uma resenha desse belo trabalho, mesmo com 40 anos de atraso.

A primeira coisa que me chama a atenção é o cuidado que a dupla teve em se cercar dos melhores compositores da época. Podemos citar Alcino Alves (o Sampaio, da dupla Teodoro e Sampaio), Darci Rossi, Ronaldo Adriano, Joel Marques, Peninha e o inigualável Moacyr Franco. Com um time desta categoria, não tinha como dar errado o projeto. E ainda temos os próprios Chitãozinho e Xororó, além do Marciano e da Martinha, cantores, mas que participaram das composições. O esmero que a dupla tem na escolha do repertório com certeza é um dos principais fatores de sucesso. E ser o 10° álbum da dupla na ocasião não os fizeram baixar esse padrão, ou pensar que já tinham entregado tudo o que tinham de melhor, pelo contrário, foram buscar o que o mercado dispunha de melhor para presentear o fã e ouvinte com um trabalho de primeira.

A música título, a segunda do lado A, ‘Fotografia’, é uma bela guarânia sobre como podemos nos arrepender de destruir as lembranças de amores passados, já ‘Pés Descalços’, uma canção rancheira regravada depois por Cézar & Paulinho, retrata uma mulher bem esperta que submete seu apaixonado homem ao que hoje chamamos de relacionamento tóxico. ‘Vem Provar de Mim’, outra canção rancheira, usa de diversos antagonismos na letra, mostrando como a música sertaneja absolutamente não é um estilo musical menor, e pode ter muita riqueza de detalhes e nuances quando se trabalha para que isso aconteça. ‘Gosto Amargo’ é aquele bolero que representa o drama do homem que perde a mulher amada e daí, chora e bebe por isso, algo muito comum nas letras dos anos 1980, mas muito presente ainda hoje, só que mais disfarçado pelo ritmo dançante e as letras com uma pegada mais humorada. E claro, eu não poderia fechar minha análise sem citar a música que, coincidentemente, também é a que fecha o trabalho deles, a última do lado B, aquela que o programador do rádio nunca toca, como cantou Sérgio Sampaio, mas nessa ele errou, porque a música foi um sucesso estrondoso, ‘Filho de Maria’, do genial Moacyr Franco, que conta a história triste e real de uma criança que foi gerada ao léu, abandonada pelo genitor, e que fica sem a mãe quando esta morre no parto, mas um dia encontra esse pai e o diálogo se desenvolve. Uma obra prima para concluir esse álbum tão especial de 40 anos atrás.

Ao longo dos anos, “Fotografia” se tornou um álbum essencial para qualquer amante desse estilo. Suas canções continuam sendo tocadas nas emissoras de rádio ano após ano, mantendo viva a tradição da música sertaneja dessa época tão rica culturalmente falando. O sucesso do álbum se deve, além do que já citei, à sua qualidade musical, à interpretação impecável de Chitãozinho & Xororó e à capacidade de conectar com o público, abordando temas universais que ressoam com todos.

Usando alguns trocadilhos, “Fotografia” continua sendo um retrato atemporal neste grande álbum que é a música sertaneja, sendo assim um trabalho fenomenal que resiste ao tempo e merece ser celebrado. Coloque ele hoje no seu toca-discos, no seu reprodutor de CDs, ou no seu provedor de streaming preferido, e veja como vai viajar no tempo e ter uma ótima experiência auditiva.

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