QUEM QUER TRABALHAR???

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A experiência de trabalho durante a infância e adolescência, especialmente em funções como empacotador, estoquista ou ajudante geral em supermercados, era algo comum há algumas décadas. Lembro-me de que, quando criança, era frequente ver jovens, muitos deles colegas de escola, trabalhando nesses serviços. Eles ganhavam seu próprio dinheiro, desenvolviam habilidades básicas de responsabilidade e aprendiam a valorizar o esforço do trabalho, tudo isso com anuência dos pais. No entanto, essa realidade parece ter desaparecido com o tempo. Hoje, é raro ver jovens desempenhando essas funções, e as 30 mil vagas em aberto hoje mencionadas pelo presidente da Associação Paulista de Supermercados, o Sr. Erlon Ortega, refletem uma mudança significativa no perfil dos trabalhadores e nas expectativas em relação ao trabalho.

Essa transformação pode se dar, em primeiro lugar, há uma crescente busca por trabalhos considerados mais leves, flexíveis e, preferencialmente, remotos. A ascensão da tecnologia e a popularização de empregos digitais, como atendimento online, design, e programação, têm seduzido os mais jovens. Essas ocupações são vistas como mais modernas, menos desgastantes fisicamente e, muitas vezes, mais bem remuneradas. Além disso, a possibilidade de trabalhar de casa, é um atrativo que contrasta fortemente com a rigidez dos turnos em supermercados, onde é necessário cumprir jornadas fixas, muitas vezes em pé e em ambientes movimentados. Lembro-me de questionar uma vez um cunhado meu do porquê era tão frequente a oferta de vagas de açougueiro no Mercado Municipal de Piracicaba, e ele explicava que os horários mais rígidos e os dias quase que contínuos de trabalho desanimavam os jovens que queria curtir seus passeios, chegar mais tarde em casa e assim, acabavam desanimados de acordar bem cedinho para um dia de árdua labuta.

Outro ponto importante é a mudança cultural em relação ao valor atribuído a certos tipos de trabalho. Funções como empacotador ou estoquista são frequentemente vistas como “menores” ou menos dignas, especialmente quando comparadas às promessas de carreiras promissoras no mundo digital. Essa percepção, aliada à falta de flexibilidade nos horários de trabalho, como destacou o presidente da APAS, tem desanimado os jovens a buscarem essas vagas.

No entanto, a falta de mão de obra em setores essenciais, como os supermercados, pode gerar problemas logísticos e operacionais, afetando tanto as empresas quanto os consumidores. Além disso, a experiência de trabalhar em funções consideradas mais simples pode ser um passo importante no desenvolvimento pessoal e profissional. Ela ensina valores como disciplina, trabalho em equipe e resiliência, que são fundamentais em qualquer carreira.

A proposta de reformar a jornada de trabalho nos supermercados, tornando-a mais flexível, pode ser um caminho para atrair novamente os jovens para essas vagas. Horários mais adaptáveis, como turnos reduzidos ou a possibilidade de trabalhar em meio período, poderiam conciliar melhor os estudos e outras atividades com o trabalho. Além disso, campanhas de valorização dessas funções, mostrando sua importância e as oportunidades de crescimento dentro das empresas, poderiam ajudar a mudar a percepção negativa que muitos têm sobre esses empregos. Por fim, a velha máxima de que “quem não escolhe trabalho, não fica parado”, ainda é válida. Se, por um lado, é urgente mudanças na estrutura das jornadas e uma reavaliação cultural sobre o valor desses empregos, é também imprescindível uma volta aos costumes de que ‘cabeça vazia é oficina do diabo’ e a demonstração de interesse de ambos os lados reverterá esse cenário, ao mesmo tempo em que se oferece uma oportunidade de crescimento para as novas gerações.


Esta publicação também está disponível no jornal A Tribuna, na edição do dia 25/02/2025, na página A2. Você pode acessar a versão em PDF pelo link: A Tribuna – Edição 13580.

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Olá, eu sou Ari Jr

Sou escritor, blogueiro e viajante. Ser criativo e fazer coisas que me mantêm feliz é o lema da minha vida.

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