Chico Buarque: O Homem, a Política e a Obra

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Bom dia, boa tarde ou boa noite, caro leitor, dependendo de quando você estiver com esse artigo em mãos. O fato é que estamos aqui para celebrar os 81 anos completados na semana passada, de Francisco Buarque de Hollanda, ou simplesmente Chico Buarque, o maior compositor da nossa ‘terra brasilis’ em língua portuguesa vivo, claro que, isso na minha modesta opinião.

Chico é daqueles raros artistas que conseguem ser, ao mesmo tempo, populares e cultuados pela crítica, melódicos e profundos, simples e complexos. Suas músicas são como aqueles pratos que agradam a todos: do intelectual que discute metáforas em ‘Construção’ ao trabalhador que canta ‘A Banda’ no boteco. E é justamente essa universalidade que faz com que sua obra sobreviva há décadas, atravessando gerações sem perder a relevância.

Mas, claro, nem tudo são flores, e toda unanimidade é burra, ou melhor, as flores do Chico até são lindas, mas tem gente que prefere não as cheirar por causa do jardineiro. E aqui entramos no espinhoso tema do posicionamento político do homem. Chico nunca escondeu suas inclinações à esquerda, e em tempos polarizados, isso basta para que parte do público resolva jogar fora o disco; às vezes, literalmente.

Não são poucos os que torcem o nariz para ‘Geni e o Zepelim’ ou ‘Cálice’ porque associam as canções a um viés ideológico. “Ah, mas ele apoia isso, defende aquilo, critica aquilo outro…” E daí? Desde quando arte precisa ser asséptica, neutra, despida de opinião? Chico, como qualquer ser humano, tem suas convicções, e elas transbordam para sua obra, assim como as de tantos outros artistas que, curiosamente, não sofrem o mesmo escrutínio quando suas posições são mais… digamos, convencionais.

Aí vem a pergunta que não quer calar: “Como separar o homem da obra?” Rebato, de imediato: “Será que devemos mesmo separar?”

Alguns dirão que sim, que o importante é a música, o texto, a emoção que aquilo provoca, independentemente de quem escreveu. Outros vão argumentar que arte e artista são indissociáveis, que a vida e as escolhas do criador fazem parte do pacote. Eu acho que a resposta está em algum lugar no meio, e mesmo essa talvez nem seja uma resposta definitiva. O que não dá é para deixar de reconhecer que ‘Roda Viva’, ‘Tanto Mar’ ou ‘Vai Passar’ são obras-primas só porque o autor não vota no mesmo candidato que você. A genialidade do Chico está justamente na capacidade de falar do humano e de suas alegrias, suas dores, amores e injustiças de um jeito que transcende bandeiras partidárias. Quem ouve ‘Pedro Pedreiro’ e só enxerga um panfleto político é porque não prestou atenção na poesia daquela espera angustiante, que pode ser a de um operário, um desempregado ou um pai de família qualquer.

E para os desavisados, tem mais: Chico não é só música. É literatura pura. Seus romances, como ‘Budapeste’ e ‘Leite Derramado’, mostram que ele nosso idioma com a mesma maestria com que compõe versos. O cara é um artesão das palavras, seja cantando, seja escrevendo. Claro, ele não é perfeito — ninguém é. Tem quem critique seu suposto elitismo, seu lugar de fala, seu distanciamento do “povo real”. Mas, o quanto isso importa? Arte não precisa ser feita por santos, nem precisa agradar a todos. Ela só precisa ser verdadeira, e Chico, por mais que se discorde dele, nunca deixou de ser autêntico.

No fim das contas, o que fica é a obra. Fica ‘Futuros Amantes’, que arranca suspiros até hoje. Fica ‘Bye Bye Brasil’, que embala histórias de quem parte e de quem fica. Fica aquele refrão de ‘Essa Moça Tá Diferente’, que ainda hoje soa moderníssimo. Chico Buarque já entrou para a história, e nenhuma discussão política vai apagar isso.

Então, que o homem viva muitos anos ainda… de preferência, nos presenteando com mais canções, mais livros, mais dessa genialidade que só ele tem. E que a gente, como público, saiba apreciar a arte pelo que ela é: um reflexo do mundo, com todas as suas contradições. Vida longa ao mestre Chico. E que a gente nunca perca a capacidade de ouvi-lo, sem preconceitos, sem rancores, só pela pura beleza da coisa. Porque no final, é isso que importa.


A Tribuna Piracicabana – Edicao 13678

Terça – 27-06-25

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Olá, eu sou Ari Jr

Sou escritor, blogueiro e viajante. Ser criativo e fazer coisas que me mantêm feliz é o lema da minha vida.

Últimas Postagens

Anúncios

0 0 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Get Curated Post Updates!

Sign up for my newsletter to see new photos, tips, and blog posts.

Subscribe to My Newsletter

Subscribe to my weekly newsletter. I don’t send any spam email ever!