Faz-se agora um calor primaveril de derreter o mais desavisado,
Apresenta-se uma quentura sem fim para o executivo atrasado,
Achei mesmo ser o inferno por fim escancarado para cooptar almas,
Chorei, com medo, pedi perdão, erguendo aos céus minhas palmas.
Mas, era apenas o mês de dezembro despontando no horizonte,
O hoje ferve como caldeirão incandescente, como já se fez no ontem.
O dia amanhece inclemente às cinco, e finda às sete já na calada,
Bebe-se três litros d’água, morre-se à tarde, e não adianta de nada.
Mas há também coisas boas: dias por fim ociosos, dinheiro adicional,
Emendo daqui e dali o fim de semana, busco o descanso providencial.
Beberico um pouco mais que de costume, são festas e convites a mil,
Pra que buscar neve, renas e capotes, se estou na maravilha do Brasil?
Ouço neste momento a sabiá que gorjeia triste e abafada no quintal,
Deus por certo fez a estação calorenta e preguiçosa assim proposital,
Afinal, foi a preguiça me inspirou a escrever estes versos malandros,
Querendo um dezembro não tão abafado, mas que seja mais brando.
Vejam que o poeta aqui não se contenta com nada do que é agraciado,
Se frio fizesse, reclamaria, e contra o calor, esbraveja, um tanto amuado.
As únicas coisas que o alegram nesta virada de ano são duas em especial:
O gorjear cadenciado do sabiá na árvore de casa, e o Advento do Natal.
Por isso termino esses versos dum quase assado poeta já incandescente,
Desejando a todos que o menino Jesus renasça cada dia em sua mente,
Que tenham ainda a delicadeza de se encantar com o sabiá, e com o novo, Pois dezembro é o mês de recomeço, do nascimento, de nova paz ao povo!