O BRASIL QUE NÃO LÊ, NÃO CONTA E NÃO PENSA.

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Há um número que persegue o Brasil como uma sombra teimosa: quase um terço dos adultos entre 15 e 64 anos não consegue entender um texto simples ou resolver uma conta básica. São os analfabetos funcionais, aqueles que, embora tenham passado pelos bancos escolares, saíram deles sem dominar o essencial. E o mais curioso — ou revoltante — é que esse índice não se mexe. Não importa se o governo é de esquerda, de direita ou do centro, se o orçamento da educação aumenta ou se novos programas são anunciados com pompa. O analfabetismo funcional resiste, incólume, como um monumento à nossa incompetência coletiva. 

Entre 2013 e 2022, os gastos públicos com educação subiram 8%. Em 2022, batemos o recorde histórico: R$ 490 bilhões destinados à educação básica, quase 5% do PIB. E, no entanto, aqui estamos, patinando no mesmo lamaçal de ignorância. Onde está o dinheiro? Em burocracias inchadas, em projetos mal formulados, em políticas que não chegam à sala de aula ou, pior, que chegam de forma tão desgovernada que não produzem aprendizado?

Há quem diga, com um sorriso amarelo, que um povo inculto é mais fácil de manipular. E, convenhamos, a ideia não é absurda, não é algo que possa ser simplesmente desconsiderado. Um cidadão que não interpreta um texto dificilmente vai questionar os números de um orçamento público. Alguém que não domina operações matemáticas básicas não perceberá quando um político promete o impossível. Mas será mesmo que a mediocridade do nosso ensino é fruto de uma estratégia maquiavélica? Ou será apenas o retrato de um Estado que, mesmo quando tenta acertar, erra feio? 

Lembro-me de uma conversa com uma professora da rede pública, mulher de olhos cansados e voz rouca de tanto gritar em salas superlotadas, o infeliz estereótipo da classe docente pública brasileira . Ela me disse: “A gente passa o ano tentando cumprir um currículo que não leva em conta se o aluno aprendeu ou não. O sistema empurra todo mundo pra frente, mesmo quem não sabe ler direito. No final, o governo comemora a taxa de aprovação, mas ninguém pergunta se aquelas crianças realmente aprenderam alguma coisa.”

E é assim que o Brasil finge que educa. Aumentamos o acesso à escola — e isso, de fato, é um avanço que não podemos negligenciar ou minimizar — mas não garantimos que dentro dela aconteça o milagre (ou melhor, o óbvio) da aprendizagem. O resultado está aí: milhões de brasileiros que, mesmo com diploma na mão, não conseguem distinguir um argumento de um slogan, uma conta de luz de um golpe, gerando profissionais cada vez menos qualificados para todas as áreas da necessidade comunitária. 

Quando um governo anuncia mais verba para a educação, a plateia aplaude. Afinal, quem seria contra investir no futuro das crianças? Mas o que ninguém pergunta é: como esse dinheiro está sendo gasto? Será que está indo para a formação de professores, para a melhoria da infraestrutura das escolas, para materiais didáticos de qualidade? Ou está se perdendo em licitações superfaturadas, em cargos comissionados, em programas que existem apenas no papel? O Brasil é especialista em transformar boas intenções em desperdício. E, no caso da educação, isso é criminoso. Porque cada centavo mal aplicado significa uma criança que não aprendeu a ler, um adolescente que não desenvolveu senso crítico, um adulto que será sempre enganado por quem detém o poder.

Somos um país que adora simulacros. Fingimos que educamos, fingimos que aprendemos, fingimos que estamos evoluindo. E, enquanto isso, o analfabetismo funcional segue, como um lembrete de que nossa elite política e administrativa — independente de partido — não tem a menor urgência em resolver o problema.

Talvez porque, lá no fundo, eles saibam que um povo que pensa é um povo perigoso. Um povo que pergunta, que exige, que não se contenta com migalhas. Mas eu prefiro ainda acreditar que é só incompetência mesmo. Porque se for estratégia, aí é que estamos perdidos de vez. Enquanto isso, seguimos com nossas estatísticas vergonhosas, nossos discursos vazios e nossa eterna espera por um milagre que, sabemos, nunca virá de cima pra baixo. A educação que salva não será presente de nenhum governo. Terá de ser conquistada — contra tudo e contra todos os que pensam diferente disso.


📰 Esta publicação também está no jornal O Democrata!

Nosso artigo foi publicado na edição do dia 10/05/2025 do jornal O Democrata, na página 5.

Acompanhe e compartilhe essa reflexão sobre democracia, liberdade de imprensa e participação cidadã! 📢

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Olá, eu sou Ari Jr

Sou escritor, blogueiro e viajante. Ser criativo e fazer coisas que me mantêm feliz é o lema da minha vida.

Últimas Postagens

Anúncios

0 0 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Get Curated Post Updates!

Sign up for my newsletter to see new photos, tips, and blog posts.

Subscribe to My Newsletter

Subscribe to my weekly newsletter. I don’t send any spam email ever!