O PASSADO EM ALTA DEFINIÇÃO

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Outro dia, ao abrir um dos muitos catálogos de streaming, me deparei com um título familiar: “Ghostbusters – Apocalipse de Gelo”. Confesso que, por um momento, senti aquele frio na barriga típico das noites de segunda-feira na frente da TV, esperando começar ‘Tela Quente’ e torcendo para que o filme fosse do gênero que me agradasse. Ao lado desse filme, outros tantos conhecidos: “Top Gun: Maverick”, “Nosferatu”, “Matador de Aluguel” e até uma nova versão de “Branca de Neve”. Era como se a máquina do tempo finalmente tivesse sido inventada, só que ao invés de nos transportar, ela trazia o passado até nós, agora com mais pixels e som imersivo.

Vivemos tempos de reviver histórias e emoções. O cinema e a TV parecem ter embarcado em um túnel do tempo onde tudo que já foi sucesso pode e deve ser revisitado. Há uma razão para isso: o passado nos conforta. Em meio à velocidade frenética do mundo digital, aos excessos de informação e à instabilidade que define nosso presente, é natural que busquemos refúgio no que já conhecemos. O passado é um território seguro, onde já sabemos o final da história e podemos revivê-la sem o risco das surpresas desagradáveis que a vida real insiste em nos impor.

O fenômeno do streaming potencializou essa viagem nostálgica. Antes, para se rever um filme, série ou mesmo uma novela que a gente gostou, era necessário torcer para que alguma emissora de TV resolvesse exibi-los, no dia e horário que melhor conviesse a ela. Agora, um simples clique nos leva de volta à infância ou à adolescência. Essa facilidade de acesso ao passado não só alimenta a nostalgia, mas também cria públicos para essas histórias que só ouviam falar desses espetáculos. Quem nunca assistiu “Friends” na época em que foi ao ar, por exemplo, caso da minha filha mais velha, hoje maratona a série e se sente parte daquele universo noventista de apartamentos gigantes em Nova York e celulares que mais pareciam tijolos.

No cinema, a febre das refilmagens também tem suas razões comerciais. Um título que já conquistou fãs no passado tem mais chances de sucesso do que uma ideia completamente nova. E os números provam isso: “Top Gun: Maverick” arrecadou bilhões, mostrando que, mesmo décadas depois, os pilotos de caça ainda têm seu charme e apelo comercial. O mesmo vale para “Ghostbusters: Mais Além”, que resgatou o charme da franquia original e ainda conquistou uma nova geração que só conhecia o filme pela música-tema inconfundível de Ray Parker Jr. Na TV, a Rede Globo promete incrementar a audiência dela com um remake duma de suas novelas que mais alcançou sucesso no Ibope e no imaginário nacional: “Vale Tudo”. Mesmo depois de amargar dissabores com o remake de “Renascer”, a emissora carioca promete mudar esse jogo, e dividir a atenção do público com streamings que apresentam novas fórmulas em novelas, como é o caso da retumbante “Beleza Fatal”. Você acredita nessa fórmula? Acha possível pegar algo que já foi tão bem-sucedido, num passado tão próximo, e ainda assim, conseguir melhorá-lo, extraindo ainda mais sucesso, usando uma nova roupagem? Eu acho uma aposta muito arriscada, mas, usando um jargão que já foi comum em novelas: aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Agora, vale perguntar-nos: até que ponto essa nostalgia visual é saudável? Se, por um lado, ela nos oferece um reencontro com personagens queridos e histórias inesquecíveis, por outro, também nos impede de olhar para frente. Será que estamos presos a um looping de nostalgia, onde a criatividade cede espaço para a reciclagem do que já foi feito? Ou será que essa reinterpretação do passado é, na verdade, uma nova forma de contar histórias, adaptando-as aos tempos modernos? Da mesma forma que o retrovisor nos serve apenas de auxiliar no processo de direção de um carro, olhar para trás deve ser algo esporádico, e não a base de nossos gostos e preferências. Devemos buscar o novo, ansiar pelo desconhecido, e crescer cada dia mais experimentando novas formas de criar experiências únicas.

Talvez a resposta que melhor caiba nessas questões seja: equilíbrio. Reviver o passado pode e deve ser delicioso, desde que isso não nos impeça de seguir mirando no futuro. Por fim, a nostalgia é como aquele velho vinil que encontramos na estante: colocamos para tocar, fechamos os olhos e nos deixamos levar por um tempo que, mesmo distante, nunca deixou de ser nosso. Mas, quando a música acaba, é preciso lembrar que ainda há muitas canções inéditas esperando para serem descobertas.


📰 Esta publicação também está no jornal O Democrata!

Nosso artigo foi publicado na edição do dia 05/04/2025 do jornal O Democrata, na página 5.

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Olá, eu sou Ari Jr

Sou escritor, blogueiro e viajante. Ser criativo e fazer coisas que me mantêm feliz é o lema da minha vida.

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