Procuram-se Professores: A Crise Educacional HOJE

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Em 2013, um artigo que li num matutino aqui da cidade já alertava para o déficit de professores e a desvalorização da profissão. Um pouco mais de uma década depois, o problema não só persiste como se agravou, tornando-se uma crise estrutural, o que me induz a tocar no assunto mais uma vez. A progressão continuada, a falta de políticas públicas eficazes e a desvalorização crônica do professor como pilar da sociedade são temas que exigem reflexão urgente. Se antes a comparação com alfaiates parecia exagerada, hoje soa profética: a profissão docente caminha para a extinção, não por obsolescência, mas por negligência.

A progressão continuada, implementada como forma de reduzir a evasão escolar, tornou-se um dos maiores entraves à qualidade da educação. Sob o discurso de “não reprovar”, o sistema promoveu uma cultura de aprovação automática, onde o aluno avança de série sem dominar os conteúdos básicos. O resultado é visível: gerações de estudantes chegam ao Ensino Médio sem capacidade de interpretar textos simples ou resolver operações matemáticas elementares.

A crítica aqui não é à ideia de evitar a reprovação punitiva, mas à falta de mecanismos de apoio real ao aprendizado. Enquanto países como Finlândia e Coreia do Sul investem em tutoria individualizada e reforço escolar, o Brasil ignora a necessidade de acompanhamento pedagógico. Professores são pressionados a “passar” alunos, mesmo quando estes não demonstram aproveitamento, perpetuando um ciclo de ignorância. A progressão continuada, sem estrutura, é uma farsa que desmoraliza o ensino e desestimula os docentes.

O mesmo artigo de 2013 mencionava o descaso do governo com a profissão docente. Hoje, a situação é ainda pior. Os salários continuam aviltantes: um professor da rede pública, após anos de formação e especialização, recebe menos que muitos cargos de nível médio. A fala atribuída ao governador em 2013 — “que o professor trabalhe por amor” — ecoa até hoje, mas o amor não paga contas. Enquanto isso, a violência nas escolas aumenta, com casos de agressões a professores tornando-se rotina.

A desvalorização também se reflete no prestígio social. Se no passado o professor era visto como uma figura respeitável, hoje é alvo de descrédito e até de ataques políticos. Propostas como o “Escola Sem Partido” (embora arquivadas) demonizaram a figura do educador, transformando-o em um suposto “doutrinador”. Essa narrativa ignorou o papel do professor como mediador do conhecimento e catalisador do pensamento crítico.

À guisa de exemplo, sempre cito o Japão pós-guerra, onde os professores foram priorizados na reconstrução nacional. Enquanto isso, no Brasil, a educação é tratada como gasto, não como investimento. Políticas públicas são fragmentadas, mudando a cada governo, sem continuidade. O Ministério da Educação, longe de ser uma referência, frequentemente se envolve em escândalos ou promove avaliações questionáveis, como a aceitação de receitas de macarrão instantâneo como “redação” no Enem, ou absurdos do tipo. No que nos diferenciamos do país asiático? O Japão entendeu que um país se constrói pela educação; o Brasil insiste em achar que se constrói por obras faraônicas ou discursos vazios. Enquanto lá os professores são valorizados, aqui são vistos como obstáculos ao ajuste fiscal.

Não sou nenhum catedrático nessa área, longe disso, sou mero observador e opinante, mas como tal, entendo que, para reverter esse cenário, é preciso de uma reestruturação salarial com um piso nacional digno e planos de carreira que incentivem a permanência na profissão; o fim da progressão continuada sem apoio, com turmas menores e acompanhamento individualizado; o combate à violência, com campanhas de respeito ao professor e medidas protetivas nas escolas; autonomia pedagógica para os professores e formação continuada, não só com discursos, mas com investimentos maciços em mestrados e doutorados para docentes da rede pública, vinculando ascensão profissional à qualificação.

Posso afirmar que a extinção da profissão docente não é um acidente, mas uma escolha política. Enquanto o Brasil tratar educação como moeda de troca eleitoral, perderemos não apenas professores, mas o futuro da nação. É urgente resgatar o valor do ensino, começando por quem o faz possível: os professores. Sem isso, continuaremos a formar gerações de analfabetos funcionais, condenados à marginalização intelectual e econômica. O momento de agir é agora — antes que a última luz das salas de aula se apague.


Esta publicação também está disponível no jornal A Tribuna, na edição do dia 30/04/2025, na página A2. Você pode acessar a versão em PDF pelo link: A Tribuna – Edição 13637.

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Olá, eu sou Ari Jr

Sou escritor, blogueiro e viajante. Ser criativo e fazer coisas que me mantêm feliz é o lema da minha vida.

Últimas Postagens

Anúncios

0 0 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Get Curated Post Updates!

Sign up for my newsletter to see new photos, tips, and blog posts.

Subscribe to My Newsletter

Subscribe to my weekly newsletter. I don’t send any spam email ever!