TEXTO ORIGINALMENTE ESCRITO EM ABRIL DE 2011, REVISADO PARA OS DIAS ATUAIS, MANTENDO A ESSÊNCIA DO QUE FOI VIVIDO NA ÉPOCA.
“Quem pariu Mateus que o balance”. Dessa forma simples e direta, minha mãe, em sua folclórica sabedoria, sentenciava qual seria o nome do primogênito do meu irmão Mauricio. Este mal cabia em si ao saber que seu primeiro rebento viria ao mundo, saudável, e ainda por cima um menino, para que ele pudesse levar para jogar capoeira, para ensina-lo a gostar de Martinho da Vila, como também fez comigo, essas coisas que todo pai quer deixar de herança para o filho mais velho, para o futuro homem da casa que daria continuidade a tudo que ele mesmo plantou.
Mas me deixem explicar o porquê desta frase de efeito acima ser proferida por mamãe. Nessa época, ela havia acabado de se separar do meu pai, o velho Ari e com isso passamos a morar temporariamente num quarto cedido pelo Mauricio em sua casa, que era a maior da vila onde ele morava e nos acolheu. Para mim, que era um molecote de aproximadamente 09 anos, tudo era motivo de festa, mudar-se de casa, mudar-se de escola, tudo era novidade. Mas, a maior das novidades de então era a gravidez da Márcia, esposa do Mauricio, pois, enfim, meu irmão seria papai, e nem é preciso dizer o quanto ele estava todo babão por isso.
É de conhecimento público que um dos maiores receios dos pais de primeira viagem é perder a vida com a qual estão acostumados antes da chegada do pequeno rebento. Isso gera uma certa apreensão, pois, por mais que a criança seja por demais desejada, sempre ficam aquelas questões pairando em suas cabeças: Mas, será que não vou mais poder sair com meu marido? Como ficam nossos programas de lazer à noite, com um recém-nascido? Como vamos fazer quando quisermos ir a um cinema, a um shopping, ou mesmo dar aquela ‘esticada’ na noite, para fugir da rotina maçante do casamento? Essas dúvidas práticas queimavam os neurônios de Márcia, quando, acuada por falta de respostas conclusivas, foi procurar a fonte da sabedoria da família Alves, ninguém mais que dona Maria, a Matriarca da família.
– Dona Maria, agora que a senhora está morando com a gente, e eu estou grávida, vai ficar bem mais fácil para que a senhora olhe o neném pra nós quando eu quiser sair com Mauricio, de noite, por exemplo, para um cineminha, ou coisa do tipo, afinal a senhora nem precisa sair de casa…
A frase mal tinha sido completada, com a Márcia ainda tomando um segundo fôlego para continuar seu trabalho de convencimento, quando minha mãe respondeu taxativa:
– Eu? Meu bem? Mas espere sentada, porque de pé você vai se cansar! Quem pariu Mateus que o balance!
O significado dessa máxima é autoexplicativo, não é mesmo? Ela não iria olhar criança alguma, ainda mais para o casalzinho fofura poder passear como dois namoradinhos livres de responsabilidades. Num caso de doença, alguma situação mais séria, nem precisaria pedir, poderiam contar com ela sem pestanejar, mas para saracotear, que se esquecessem da velhinha, afinal, quem pariu o Mateus que o balance, seja no colo, no berço ou no carrinho.
O riso foi geral diante da reação inusitada da minha mãe, eu e Mauricio estatelados no sofá gargalhando e Márcia, não na maior das felicidades, mas, sem muito o que fazer, saiu da sala ostentando seu barrigão de grávida, sabendo que essa era a posição final da Dona Maria, sem direito a recurso.
Se registrar o garoto com o nome de Gilberto já era uma decisão da Márcia, corroborada pelo papai, Mateus tornou-se o segundo nome do pequeno, pois bem ou mal o Mauricio achou genial a sacada da nossa mãe e usou disso para que, como pai também pudesse escolher o nome do primogênito que tanto alegraria essa família.
Como já dito por mim aqui, Deus cuidou para que o menino nascesse saudável, e Gilberto Mateus foi balançado por muitos, inclusive por este contador de histórias, que mesmo moleque como era então, curti demais aquele sobrinho que nos nasceu, sobrinho que até hoje nos alegra com sua personalidade marcante e cativante. Meu moleque corintiano querido, escrevi essas linhas para que você e o mundo todo (pretensioso!!) soubesse o quanto eu o amo, o admiro, e quero que todos os seus sonhos se realizem, pois tenho certeza que estes sonhos só resultarão em bem a todos que estão ao seu redor.
Só quero aproveitar este texto que sei que lerá com carinho, para deixar um conselho, afinal, conselho, prudência e canja de galinha não faz mal a ninguém… agora que os lampejos de um relacionamento sério, quem sabe um casamento, iluminam o horizonte da sua vida, na hipótese de sua querida “Lady Di” presentear-lhe com uma linda criança, aproveitem bem antes dela nascer, pois a partir deste nascimento, nada de tentar pedir para a vovó Márcia ficar com ela pra vocês passearem, afinal, se fizerem isso, com certeza ouvirão a voz de Maria Alves nos seus ouvidos a sentenciar: QUEM PARIU MATEUS QUE O BALANCE!
P.S. de 2024 – Sim, Mateus se casou com “Lady Di” e já vão para 13 anos de feliz união. Mas, ainda podem aproveitar as noites como dois pombinhos, pois não chegou ainda quem necessite ser balançado. Das duas, uma: ou estão esticando a corda ao máximo, aproveitando cada segundo da vida de casadinhos de novo, como se dizia antes, ou o medo de ouvirem a Vó Maria lembrando-os que ‘quem pariu Mateus que o balance’ é tão forte, que vão deixar um pouco mais as coisas correrem. O importante é serem felizes, como o são, e serem fonte de felicidade a todos os que os rodeiam, coisa da qual sou testemunha ocular.
Te amo, Gilberto Mateus, que tanto o balancei.