Não é um filme novo. Lançado entre 2008 e 2009, “Sim Senhor” já foi assistido incontáveis vezes pelas minhas filhas. Não é um blockbuster, mas um daqueles filmes modestos que, de repente, nos pegam de surpresa. Foi assim que me senti ao revê-lo. Gostei tanto que decidi resgatar essas reflexões que escrevi em 2013 e adaptá-las aos dias de hoje.
O filme, estrelado pelo sempre genial Jim Carrey, conta a história de Carl Allen, um homem preso em uma rotina cinza, que diz “não” a tudo até ser apresentado a um programa que promete transformar sua vida com uma única palavra: “sim”. A proposta é simples: ao aceitar as oportunidades que surgem, o “cosmos” responderia de forma positiva. Claro, como toda comédia, Carl passa por situações absurdas: desde dar carona a um mendigo que esgota seu celular e seu dinheiro até quase ser detido pela Polícia Federal. Mas, no meio do caos, algo mágico acontece: sua vida começa a mudar.
O que mais me marcou não foram as trapalhadas, mas a lição por trás delas. Carl sai da sua zona de conforto e, ao fazer isso, descobre que dizer “sim” pode significar ajudar alguém, aprender algo novo ou até salvar uma vida (literalmente, quando usa aulas básicas de violão para impedir um suicídio). A mensagem é clara: quando renunciamos ao medo e ao comodismo, o mundo nos devolve em alegria e oportunidades.
Doze anos depois da primeira vez que escrevi sobre esse filme, vivemos em um mundo ainda mais acelerado e, paradoxalmente, isolado. As telas nos conectam a milhares de pessoas, mas muitas vezes nos desconectam do vizinho, do colega de trabalho ou daquela senhora que precisa de ajuda para estacionar. O individualismo só cresceu, e a pandemia deixou marcas profundas em como interagimos. Mas a necessidade humana de conexão permanece, e é aí que “Sim Senhor” se torna mais relevante do que nunca.
Não estou sugerindo que você diga “sim” a tudo, afinal, limites são saudáveis. Mas quantas vezes dizemos “não” por pura preguiça, medo ou simplesmente porque “não é minha obrigação”? Cito aqui situações que já nos ocorreram: já ignorou um pedido de ajuda no trabalho porque “não era seu departamento”? Ou deixou de ouvir um idoso repetir a mesma história porque “já a conhecia”? Ou mesmo recusou um convite para algo novo — um curso, um voluntariado — por achar que “não daria certo”?
A beleza do filme está nos detalhes: quando Carl ajuda uma vendedora coreana a se comunicar, ou quando seu “sim” ao mendigo o leva, indiretamente, a conhecer o amor da sua vida. São situações fictícias, mas que ecoam na vida real. Em 2025, pequenos gestos ainda fazem a diferença, como por exemplo, dizer “sim” a explicar uma tarefa para um colega novo pode criar uma parceria valiosa, ou aceitar ajudar alguém com direções ou um carrinho de supermercado travado, e até mesmo ouvir um familiar sem interromper com o celular na mão geram laços fortes. E incrivelmente, isso não custa nada. Só exige disposição.
Estudos sobre psicologia positiva mostram que ajudar os outros libera oxitocina e serotonina, que são hormônios ligados à felicidade. Quando você diz “sim” a um ato de gentileza, seu cérebro recompensa você primeiro. E, claro, o mundo tende a retribuir. Não por mágica, mas porque boas ações criam redes invisíveis de reciprocidade.
Vivemos tempos difíceis. Crises econômicas, polarizações, notícias que nos deixam em alerta constante. Mas é justamente agora que precisamos resgatar a simplicidade do “sim”. Não como uma obrigação, mas como uma escolha diária, dizendo “sim” ao voluntariado naquela campanha de doação de agasalhos, mesmo que nunca tenha participado antes, dizendo “sim” a ouvir um amigo que precisa desabafar, mesmo que você “não tenha tempo” e até dizendo “sim” para si mesmo ao aprender algo novo, seja um idioma, um instrumento ou a cozinhar.
Citei a Bíblia em 2013 e repito hoje: “Há maior bênção em dar do que em receber” (Atos 20:35). Em um mundo que insiste em nos dividir, dizer “sim senhor” à bondade, à paciência e à coragem de sair da zona de conforto pode ser o maior ato de rebeldia, mas também de esperança. E então? Topa o desafio?
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