TEODORO, O TATU E O PAÍS DOS IMPOSTOS

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Teodoro, o Tatu, estava em sua toca nos Cafundós do Judas, desta vez não por causa de jornalistas demitidos, mas por um motivo ainda mais indigesto: o boleto do IPTU. Não que ele tivesse casa, pois morava num buraco, mas o carnê chegou por engano, como um cobrador que insiste em bater na porta mesmo depois de você se mudar.

— Ué, mas desde quando a gente paga por respirar? — questionou Teodoro, esfregando os olhos com as patinhas, enquanto lia a notícia de que o Brasil, mais uma vez, figurava no topo do ranking mundial de carga tributária, e não era qualquer posto. Era podium, medalha de ouro, recorde olímpico. Um país onde o cidadão trabalha cinco meses por ano só para pagar tributos, e o retorno é tão pífio que até o Wi-Fi da prefeitura, quando funciona, parece luxo.

Teodoro decidiu cavar fundo. Descobriu que a história do Brasil com impostos começou com o “quinto dos infernos”, a famosa cobrança portuguesa sobre o ouro. Só que, enquanto os colonizadores levavam 20%, os modernos governantes devem ter lido “quinto” como “quase tudo”.

— Excelência — perguntou ao Mandatário Supremo da Ordem e do Caos, enquanto este assinava um pacote de novos tributos —, por que a gente paga tanto e recebe tão pouco?

— Veja bem, Tatu… — respondeu o Excelentíssimo, ajustando o colarinho engomado —, o problema do nosso País é a sonegação. Se todo mundo pagasse direitinho, não precisaríamos cobrar tanto.

— Ah, então é tipo punir a sala inteira porque um aluno colou?

— Exatamente! Só que, no caso, a sala é o país, o aluno é um bilionário com offshore, e quem leva a culpa é o Zé da Esquina, que esqueceu de declarar um pastel. – Disse com naturalidade.

Teodoro não se conformava. Pagava-se imposto sobre luz, água, comida, remédio, salário, herança, até para morrer (e, dependendo do caixão, para ficar morto). Mas onde estava o retorno?

— Ora — explicou um burocrata, enquanto reformava o terceiro banheiro de ouro do Palácio —, o retorno está na qualidade dos serviços! Veja só: você paga impostos para ter saúde pública, mas, se ficar doente, espere sentado. Literalmente. Até cair da cadeira. E a educação? As escolas públicas, quando não estão caindo aos pedaços, têm livros didáticos que ensinam que o Brasil foi descoberto em 1500, mas não explicam por que, em 2025, ainda estamos procurando onde erraram a rota.

— E os impostos sobre combustível, pelo menos esses podem aliviar pro povo? — indagou Teodoro.

— Ah, esses são sagrados! Servem para manter o preço da gasolina tão alto que até os postos de gasolina fazem vaquinha para se manterem abertos.

— Se não fosse a sonegação — diziam os ministros, enquanto ajustavam os relógios de ouro —, poderíamos cobrar menos.

Teodoro, porém, descobriu que os maiores sonegadores não eram os camelôs ou os pequenos comerciantes, mas justamente os grandes grupos econômicos, muitos deles, amigos do rei. Enquanto o cidadão comum era multado por esquecer um centavo no IR, empresas bilionárias achavam “brechas” tão grandes que davam para passar um caminhão de notas fiscais.

— Então quer dizer que eu pago mais porque eles pagam menos?

— Bingo! — respondeu o assessor, antes de sair de helicóptero para um almoço de R$ 50 mil.

E o que fez o governo diante disso? Criou mais impostos, claro!

— Mas como? — gritou Teodoro. — Já pagamos imposto até pelo ar que a gente não respira direito por causa da poluição!

— Calma, meu caro cascudo! Temos soluções modernas: imposto sobre delivery (porque pobre não pode ter conveniência), imposto sobre streaming (porque cultura deve ser privilégio), e até imposto sobre silêncio (porque Brasileiro muito quietinho é suspeito).

Teodoro, cansado de cavoucar burocracias, voltou para sua toca. Mas antes, deixou um bilhete no poste da esquina:

“Enquanto o Brasil continuar acreditando que o problema é o cidadão que sonega R$ 10, e não o sistema que perdoa R$ 10 bilhões, vamos seguir sendo o país do futuro, só que o futuro nunca chega. E o pior? Quando ele vier, vai ter taxa de entrega.” 


A Tribuna Piracicabana – Edicao 13682

02/07/2025

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Olá, eu sou Ari Jr

Sou escritor, blogueiro e viajante. Ser criativo e fazer coisas que me mantêm feliz é o lema da minha vida.

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Marcelo Cappelletti
Admin
5 horas atrás

O texto está ótimo: afiado como unha de tatu recém-feita e divertido como meme de política em grupo de zap da família. A sátira tá no ponto, o humor escorre como caldo de pastel de feira, e a crítica social bate forte sem perder a ternura. Só faltou um aviso no começo: “Rir para não chorar (de raiva do boleto)”.

Agora, se tem algo pra melhorar, talvez seja dar uma trégua de 2% na metralhadora verbal — só pra não espantar aquele leitor que ainda acha que ICMS é nome de boy band sertaneja. E, quem sabe, explorar mais a reação do povo comum. Afinal, até o Teodoro tá cavando explicação — e o brasileiro médio só cava parcelamento mesmo.

Ah, e pra quem fez o “L” achando que ia vir “Luz, Liberdade e Leite Moça”, tá aí a realidade: L de Lamento, L de Lascado e L de “Lá se foi metade do meu salário em imposto de aplicativo”.

Mas calma, gente… o importante é que a culpa é sempre da gestão anterior, do mercado, do clima, do Mercúrio retrógrado… menos de quem tá no poder, né? 😅

O amor venceu….

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